O que os doentes alérgicos precisam de saber sobre a infeção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2)
Os doentes alérgicos têm um maior risco de infeção para COVID-19?
Com a pandemia de Covid-19, os doentes com alergia respiratória (asma e rinite alérgicas) preocupam-se com o facto de poderem ser mais suscetíveis e apresentarem um risco aumentado de contrair esta infeção por COVID-19.
Perante esta questão, a Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC) e a Sociedade Espanhola de Alergia e Imunologia Clínica (SEIAC) afirmam que “Os doentes alérgicos não apresentam um risco aumentado de contrair a infeção por SARS-CoV-2, mas a população asmática deve tomar precauções adicionais. Até à data, os dados existentes sobre a doença não parecem indicar que ser alérgico implique um maior risco de contrair a infeção por SARS-CoV-2.
A resposta imune tem um papel fundamental na defesa contra agentes infeciosos. O sistema imunitário de uma pessoa alérgica funciona de igual forma que o de uma pessoa não alérgica no que diz respeito à sua função de defesa contra microrganismos. No entanto, deve ter-se em conta que os doentes asmáticos devem ter cuidados adicionais já que as infeções respiratórias são uma das causas mais frequentes de agudização de asma.
O novo coronavírus SARS-Cov-2 liga-se recetor chamado “Enzima Conversora da Angiotensina 2 (ACE2)”, que é torna assim possível que o vírus chegue aos pulmões. Desta forma, pode induzir um maior grau de inflamação nas vias respiratórias e, possivelmente, maior gravidade de infeção por COVID-193.
Como posso distinguir entre a alergia ao pólen e os sintomas de COVID-19?
As alergias da primavera podem causar espirros, obstrução e corrimento nasal, entre outros sintomas. No entanto, numa altura em que o pânico se instalou um pouco por todo o mundo por conta do surto de COVID-19, é importante esclarecer que, ainda que similar, a sintomatologia difere em vários pontos e, ao contrário do resfriado comum (também designado por constipação), as alergias não são causadas por um vírus, são, sim, o resultado da reação do nosso organismo a determinado elemento, como, por exemplo, os ácaros ou o pólenes.
Na primavera e segundo a informação do boletim polínico os pólenes encontram-se em níveis elevados, na atmosfera, com predomínio dos pólenes das ervas gramíneas, parietária e oliveira, é mais propício o aparecimento de alergias nesta época. Isto pode originar incerteza ou confusão no doente alérgico a pólen, que pode pensar que está infetado com COVID-19 perante a manifestação dos sintomas alérgicos típicos da sua alergia. Esteja atento, mas não entre em pânico! A rinite é o tipo mais comum das alergias relacionadas com o aparelho respiratório, afetando cerca de 10% da população portuguesa.
A regra geral para distinguir a alergia ao pólen do coronavírus: o vírus causa febre, a rinite não! Para sermos um pouco mais precisos: Os sintomas provocados pelas infeções pelo SARS-CoV-2 caracterizam-se geralmente por febre, cefaleias e fadiga, acompanhadas de tosse seca e, em muitos casos, dispneia (dificuldade em respirar). A alergia ao pólen não causa febre, mas resulta frequentemente em comichão nas mucosas dos olhos e nariz, olhos lacrimejantes, espirros e corrimento nasal.
De modo a não saturar os serviços de saúde e evitar novos contágios, a SEAIC recomendou o cumprimento de todas as medidas amplamente divulgadas pelas autoridades de saúde . "Não devemos confundir os sintomas de alergia, e os sintomas conhecidos do coronavírus", diz o Dr.Pedro Ojeda, chefe de comunicação do SEAIC. "O que nos deve fazer suspeitar que se trata de uma alergia, especialmente se for devida a pólenes, é que os sintomas se vão intensificar quando o doente está ao ar livre e melhorar consideravelmente quando este permanece em locais fechados. Além disso, os sintomas de rinite alérgica diminuem, geralmente, de forma bastante rápida após a toma de anti-histamínicos tópicos ou orais e não originam febre, a menos que existam complicações infeciosas por sinusite aguda”.
Para ajudar os doentes a conseguir diferenciar os seus sintomas, foi elaborado o seguinte quadro:
COVID-19 | ALERGIA | RESFRIADO COMUM (constipação) | |
---|---|---|---|
Duração dos sintomas | Cerca de 15 dias | Curta, periódica (por vezes horas) | Tipicamente entre 7 a 10 dias |
Aparecimento dos sintomas | Progressivos e persistentes | Temporários | Persistentes |
Sintomas oculares | Não | Ardor e lacrimejo constante | Edema, lacrimejo ou cansaço |
Dor de cabeça | Intensa e persistente | Ligeira a moderada e Intermitente | Intensa e persistente |
Febre | Comum: Moderada a intensa | Nunca | Por vezes |
Dispneia (dificuldade em respirar) | Sim, em muitos dos casos | Ocasionalmente nos doentes asmáticos | Raramente |
Cansaço/fraqueza | Sim | Não | Não |
Espirros | Não | Vários e sucessivos | Esporádicos |
Contagioso | Sim | Não | Por vezes |
Ardor or comichão | Não | Ardor ocular e/ou nasal | Raramente |
Muco | Não | Aquoso e transparente | Espesso e amarelo |
Nariz entupido | Não | Sim, alternado entre narinas | Sim, numa das narinas |
Tosse | Sim, tosse seca | Por vezes | Frequentemente |
Rouquidão | Não | Por vezes | Frequentemente |
Mal-estar geral | Sim | Não | Sim, mas ligeiro |
Perda de olfato ou paladar | Sim | Não | Não |
Como é que a COVID-19 afeta os doentes asmáticos?
Se tiver asma e não estiver controlada vai ocorrer uma alteração significativa da arquitetura das vias aéreas que vão favorecer a ocorrência de infeções respiratórias, especialmente as virais (incluindo o coronavírus). Isto acontece porque as infeções virais tendem a gerar uma maior inflamação brônquica na pessoa asmática do que na não asmática, induzindo hiper-reactividade brônquica e uma progressão mais grave dessa mesma infeção com maior risco de ataques de asma.
É benéfico para os doentes alérgicos (aos pólenes) ficar em casa nestes dias?
A SEAIC é explícita quanto a esta questão: É claro! A recomendação de permanecer em casa o maior tempo possível reduzirá significativamente a exposição aos pólenes nas pessoas alérgicas a pólenes, o que beneficiará significativamente o controlo dos seus sintomas. De notar que vão necessitar de usar menos medicação para as alergias, no entanto é imperativo que a sua medicação para a asma seja escrupulosamente cumprida.
A SEAIC também fornece recomendações complementares para reduzir os níveis de pólen no domicílio:
- Em casa deverá manter as janelas fechadas quando as concentrações dos pólenes forem elevadas na atmosfera (entre as 12 e as 17 horas), devido ao aumento da luz e da temperatura.
- A utilização de purificadores de ar em casa também pode contribuir para a diminuição da exposição a pólenes.
É também salientado que as restrições à mobilidade reduziram a poluição atmosférica causada pelos gases de exaustão dos veículos motores e a redução de outros gases industriais que também são fatores de agravamento da alergia respiratória nas grandes cidades.
Os doentes asmáticos têm de seguir algum protocolo especial? O que têm de ter em conta no seu tratamento?
De acordo com a informação atual, não há risco acrescido de infeção em pessoas com asma alérgica.
Fazer o tratamento de forma irregular ou interrompê-lo porque se sente bem pode agravar a inflamação brônquica, mesmo que o doente não se aperceba inicialmente. O mau controlo da asma leva a uma maior suscetibilidade a infeções respiratórias e contribui para uma maior gravidade do quadro respiratório associado à infeção COVID-19.
Se a asma estiver bem controlada com a medicação que está a fazer diariamente, deve mantê-la conforme habitual e de acordo com o tratamento prescrito pelo seu médico.
É muito importante que o tratamento seja mantido de forma regular, sem falhas. Nas circunstâncias atuais, o doente asmático deve ser mais vigilante e disciplinado com as medidas para evitar a propagação do coronavírus: Ficar em casa, se possível aderir ao teletrabalho;Restringir o contacto social. Adotar medidas de etiqueta respiratória: Tossir ou espirrar para o braço com o cotovelo fletido, e não para as mãos; Usar lenços de papel (de utilização única) para se assoar; Lavar as mãos sempre que se assoar, espirrar ou tossir e evitar tocar nos olhos, no nariz e na boca com as mãos sujas ou contaminadas com secreções respiratórias, evitar contacto próximo com pessoas com sinais e sintomas de infeções respiratórias agudas; É de considerar o uso de máscaras por todos os doentes asmáticos que permaneçam em espaços interiores fechados com múltiplas pessoas, como medida de proteção adicional.
Os corticóides deprimem o sistema imunitário?
Muitas pessoas com alergias tomam corticóides na Primavera quando há uma elevada contagem de pólenes, pelo alívio rápido dos sintomas de asma e rinite alérgica. É verdade que alguns estudos sugeriram que os corticoides sistémicos (por exemplo, orais ou endovenosos) podem aumentar a gravidade da infeção COVID-19, deprimindo o sistema imunitário. De qualquer forma, esta recomendação não se aplica aos corticoides inalados ou nasais (que são os principais tratamentos da asma e da rinite alérgica, respetivamente), que devem ser mantidos de forma regular.
O que acontece aos tratamentos de vacinas antialérgicas em curso durante uma crise de coronavírus?
Uma das dúvidas que o estado de emergência e o consequente confinamento podem gerar prende-se com a continuidade dos tratamentos de vacinas antialérgicas (Imunoterapia subcutânea com alergénios).
Acima de tudo, tanto a SEAIC como a Sociedade Espanhola de Imunologia Clínica, Alergia e Asma na Criança (SEICAP) salientam que o objetivo a privilegiar é evitar, na medida do possível, a ida a uma unidade de saúde para fazer a administração de modo a evitar o contágio e não saturar os serviços de saúde. Para os doentes adultos, a SEAIC afirma que, se estes estiverem a realizar uma vacina subcutânea contra a alergia, a recomendação é, no caso de não ser possível administrar uma determinada dose da vacina, contactar com o seu alergologista assistente para saber de que forma pode ser efectuada a vacina e qual o protocolo a cumprir. Nos casos em que o doente alérgico está a cumprir o tratamento com uma vacina anti-alérgica sublingual, deverá manter o tratamento conforme o habitual.
No que diz respeito aos doentes pediátricos, a SEICAP recomenda o adiamento no início do tratamento com Imunoterapia com alergénios, de administração subcutânea até que a situação do sistema de prestação de cuidados ofereça garantias de segurança e prevenção do contágio. Para crianças que já se encontrem na fase de manutenção da dose de tratamento com imunoterapia subcutânea, a recomendação geral é adiá-la até que a situação o permita e, quando esta for reiniciada, ajustar o protocolo em função do atraso decorrente desde a última administração
De qualquer modo, estas recomendações não substituem as indicações do alergologista assistente. Se tiver dúvidas sobre aplicação do tratamento, contacte o profissional de saúde responsável por via telefónica ou por outra via não presencial.
Que recomendações devem seguir os doentes alérgicos para prevenir o contágio da COVID-19?
A Direção-Geral da Saúde (DGS)/Ministério da Saúde, colocou à disposição uma série de medidas que se podem encontrar no seguinte endereço:
- https://covid19.min-saude.pt/perguntas-frequentes/
- https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0042020-de-23032020-pdf.aspx
Separados para vencer juntos o coronavírus! Não deixe que as alergias dominem a sua primavera…Cuide de si, cuide de todos!
Informação adicional
Pode ainda obter informação sobre a atualidade do coronavirus e alergias para doentes e pessoal médico neste endereços:
Bibliografia
- SPAIC - GUIA DE PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE DOENÇAS ALÉRGICAS E COVID-19 – (https://www.spaic.pt/noticias/covid19 )
- SEAIC - PREGUNTAS FRECUENTES SOBRE LA RELACIÓN DE LAS ENFERMEDADES ALÉRGICAS, EN PARTICULAR LAS DEBIDAS A PÓLENES AMBIENTALES Y LA INFECCIÓN POR CORONAVIRUS- 16 de marzo de 2020
- La SEAIC ante la pandemia de coronavirus: LOS ALERGÓLOGOS EXPLICANCÓMO AFECTA EL COVID-19 A LOS PACIENTES ALÉRGICOS E INSTA A SEGUIR LAS RECOMENDACIONES DEL MINISTERIO DE SANIDAD- 16 de marzo de 2020 (https://www.publico.pt/2020/03/05/ciencia/noticia/cientistas-chineses-identificam-estrutura-proteina-transporta-coronavirus-1906532)